17 Junho 2020
"Na luta pela consolidação do Vaticano II que implica no anúncio da Boa Nova, na construção do Reino, observância da Justiça Social, no respeito à dignidade do ser humano e na denúncia profética das mais diferentes injustiças sociais, muitos membros do Episcopado brasileiro foram perseguidos e taxados de comunistas, porém, nenhum deles o era de fato. Bispos, como Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Marcelo Cavalheira, Dom Adriano Hipólito, Dom Fragoso, Dom José Maria Pires, Tomás Balduíno e tantos outros buscavam por meio de seu pastoreio efetivar as diretrizes do Concílio sonhado por João XXIII e continuado por Paulo VI", escreve Fábio Pereira Feitosa, historiador especialista em Educação.
A Igreja Católica enquanto instituição encontra-se presente no Brasil desde a chagada dos Portugueses por estas terras. Desta forma, Igreja Católica é uma das mais antigas e importantes instituições instaladas em nosso país, estando a sua história ligada diretamente a história da nação, chegando em certos momentos a confundir-se, considerando a união umbilical que havia entre estas duas esferas de poder. Tal união era institucionalizada por meio de um dispositivo denominado Padroado, pelo qual a Igreja legitimava as ações da Coroa Portuguesa e esta em troca a mantinha financeiramente em seus territórios e lhe assegurava uma gama de privilégios.
Todavia, nem tudo eram flores nesta relação, considerando que a mesma acabava por tolher a autonomia institucional da Igreja no Brasil, tornando os seus membros funcionários do Estado português, assim, a Igreja ao longo do Padroado gozava de pouca ou nenhuma autonomia institucional e mantinha pouco contato com Roma.
O quadro descrito acima foi modificado oficialmente com o fim do Padroado. O rompimento da união oficial entre Igreja e Estado pode ser analisado como um divisor de águas na história do Brasil, bem como na história da Igreja, considerando que esta quebra representou o fim da manutenção da Igreja por parte do Estado, bem como significou o fim das amarras institucionais que não permitiam à Igreja gozar de autonomia pastoral e institucional. Outro elemento advindo deste término foi a reaproximação da Igreja no Brasil com Roma, o que desencadeou um processo de reestruturação do catolicismo em nosso país.
Assim, a história das relações entre Igreja e Estado no Brasil possuem capítulos distintos, alguns são caracterizados pela aproximação, outros pelo distanciamento oficial e outros ainda são marcados por choques entre estas duas esferas, tal como no período que antecedeu o fim do Padroado e mais recentemente no contexto pós-conciliar.
Como sabemos, o Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado por João XXIII, pode ser visto como um dos mais importantes eventos religiosos do século XX, cujas diretrizes foram responsáveis por transformar profundamente as estruturas da Igreja, bem como modificar a relação desta instituição com o mundo moderno. A ideia para a convocação do Concílio Vaticano II deve ser vista como fruto direto da inspiração do Espírito Santo, cuja ação também se fez sentir ao longo dos 4 anos de intensos trabalhos e discursões acerca dos mais diversos temas que culminaram na elaboração das diretrizes conciliares.
O Vaticano II foi um concílio Ecumênico, ou seja, nele estavam presentes Bispos de todo o mundo. Outra característica deste concílio foi o seus víeis pastoral. Findado o Concílio, era a hora de colocar as suas diretrizes em prática. Como sabemos, a Igreja Católica é uma instituição que possuí um discurso homogêneo em relação as suas práticas pensamentos, porém, ela é uma instituição heterogênea, composta pelos mais diferentes grupos que possuem interesses distintos. Percebemos esta característica ao analisarmos os esforços do Episcopado no que diz respeito à adesão e aplicação das diretrizes conciliares.
Embora o Vaticano II tenha sido um evento universal, suas diretrizes foram sentidas e vividas mais fortemente na Igreja latino-americana, sobretudo, no Brasil. Em nosso país, o período pós conciliar foi caracterizado pelo esforço conjunto de membros do Episcopado para garantir a aplicação concreta do Vaticano II.
Na luta pela consolidação do Vaticano II que implica no anúncio da Boa Nova, na construção do Reino, observância da Justiça Social, no respeito à dignidade do ser humano e na denúncia profética das mais diferentes injustiças sociais, muitos membros do Episcopado brasileiro foram perseguidos e taxados de comunistas, porém, nenhum deles o era de fato. Bispos, como Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Marcelo Cavalheira, Dom Adriano Hipólito, Dom Fragoso, Dom José Maria Pires, Tomás Balduíno e tantos outros buscavam por meio de seu pastoreio efetivar as diretrizes do Concílio sonhado por João XXIII e continuado por Paulo VI. Estes homens tornaram-se símbolos de fidelidade à Igreja, ao Espírito Conciliar, tornando-se assim pastores com cheiro de ovelhas, mesmo quando isso representava riscos de morte. Estes homens foram também Dons e Profetas do Reino e hoje são exemplos para sermos a tão sonhada Igreja em Saída e como tal irmos às periferias, sejam elas físicas ou existências.
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Dons e Profetas do Reino no Brasil no pós-Vaticano II - Instituto Humanitas Unisinos - IHU